As taças provavelmente são o equipamento mais importantes para nós apreciadores de vinhos. Existem uma infinidade de produtores, de tipos, com composições de materiais diferentes e até modelos pensados exatamente para um estilo ou uvas específicas. Aqui também são muito comuns alguns mitos, assim como quase tudo ao redor do vinho, que devemos sempre combater com mais informação para entender melhor o que realmente faz sentido na hora da escolha das nossas taças.
A função principal dela é bastante óbvia: servir de utensílio para nos servimos do vinho e também avaliar suas características. No entanto, não vai dar muito certo usar qualquer copo que temos em casa para uma degustação, pelo simples motivo da grande maioria deles possui as bordas muito largas e grossas, e o formato que afunila até a base, dificultando a análise dos aromas que facilmente se dispersam nesses copos mais abertos. A experiência nos indica que leves modificações no formato básico podem acentuar as características de um vinho que, ao contrário, ficam apagadas nesses copos mais simples.
Basicamente tudo já foi usado como taça na história. Desde folhas de bananeira, pedaços de bambu, chifres, ossos, coco, pele de carneiro, couro e até as mãos. As coisas só começaram a ficar mais parecidas com o atual a partir do descobrimento de que o vidro podia ser manipulado para chegar em formas desejáveis.

Por volta de 1440, o Cristallo ganhou destaque nas principais cortes Europeias. Vinha da região Nordeste da Itália, especialmente de Murano em Veneza, feito a partir de seixos de quartzo triturado nos rios vindos dos Alpes Suíços. De difícil manejo e raro, era tão especial quanto os diamantes na época, sendo usado apenas para peças decorativas, joias e taças. Na Inglaterra, já em 1673, o produtor de vidros George Ravenscroft, nas suas tentativas de emular o Cristallo Veneziano, começou a usar o óxido de chumbo para deixar a estrutura mais firme, clara, com maior facilidade de moldes, e o mais importante, por uma fração do custo dos que usavam quartzo na composição.
Até o início do século 19, a taças eram mais rasas, ou com a borda bem aberta, para facilitar o consumo e o compartilhamento do copo. Com o passar dos anos a indústria percebeu que curvando as bordas para dentro surgiam alguns benefícios no consumo, tais como menor desperdício por derramamento, maior reflexão de luzes e, o mais importante quando falamos em vinho, a maior concentração dos aromas.

Não precisamos ter taças especificas para cada vinho. Um modelo de tamanho médio, cristalino, com a haste longa (para evitar a troca de calor direto com a bebida) e bordas mais fechadas, vai funcionar bem para vinhos brancos e tintos, em degustações mais técnicas, ou até para os espumantes. Nesse último caso, as mais alongadas, conhecidas como flûte, ajudam apenas na parte visual, mantendo as borbulhas mais vivas e constantes por um tempo maior, sendo mais usadas para datas especiais ou comemorativas.
Para os vinhos doces e fortificados é mais comum o uso das taças de menor capacidade, simplesmente por nos servimos de quantidades menores deles, sem influência direta na degustação. No cuidado a elas, vale ressaltar que a água quente é o melhor aliado para lavagem, com mínimo possível de detergentes, usando panos que não soltem muitos fiapos na secagem, procurando guardá-las em lugares secos e, principalmente, protegidos de cheiros muito fortes.
Texto por Bruno Cauchioli – Coordenador de treinamentos da Zahil e certificado WSET Nível 3.